Esse texto foi escrito por mim mesmo no fim de 2005 e eu estava relendo. Juro que não lembrava de ter escrito isso.
Como ficou bom, resolvi publicar:
28/12/2005 13:40
O Fato e o Fatídico
Detalhes sobre o rito de crueldade exercido sobre um casal de classe média alta de São Paulo com um filho mergulhado no mundo das perdições. Você sabe.
O rosto das vítimas do massacre da Zona Oeste. O sobrenome holandês de difícil pronuncia. Você conhece.
Todos os capítulos da fatídica narrativa moderna. Você assistiu.
Você crê que conhece todos os álibis, cada rosto e minúcia deste conto que destacou o noticiário.
O TeleJornal ocupa uma fatia generosa no bolo do que é visto e debatido nos horários (pouco) nobres da audiência.
O noticiário leva a discussão às mesas de bar, à casa da tia, à mesa de trabalho, aos bate-papos e chats inter-néticos.
Logo a crueldade cometida com a família de classe média da Zona Oeste vira assunto nacional.
Mas logo virão novos crimes, novos alardes, e mais adolescentes drogados surgirão. Outros personagens bizarros entrarão na sua sala ou no seu quarto, darão declarações auspiciosas, enquanto o noticiário roda nas gráficas e veicula nas mídias uma nova versão sobre relatos que se referem aos fatídicos fatos, isolados, que aconteceram a pessoas aparentemente comuns como você, num dado dia qualquer, numa hora inexplicável, sob condições suspeitas.
A audiência é o Oscar do jornalismo. E a fidelização aos pontos do IBOPE é tamanha que as chacinas são publicadas com a inocência de uma criança. Crime e narrativa se confundem.
A ruidosa porção da coluna policial e dos B.O.s de porta de delegacia nos daí hoje.